O trabalho na Recriação Histórica: um enriquecimento para a Vida!

Quem me conhece sabe que dançar em recriações históricas e mercados medievais é o meu oxigénio. Tenho mesmo uma paixão enorme pela temática de outros tempos e em ajudar a recriá-la com alegria e interação com o público.

Trabalho neste género de eventos desde 2012. Lembro-me perfeitamente, quando consegui o meu primeiro trabalho, de pesquisar de forma incessante os trajes, os instrumentos usados na época (para levar música que tivesse somente aquelas sonoridades) e toda a envolvência a mais da parte árabe, essa já previamente dissecada nos meus estudos enquanto bailarina. A simplicidade das roupas contrastava com o brilhantismo requerido para um evento de rua (que não deixava de o ser), e eu vi a minha primeira dicotomia a acontecer. Foi um longo caminho de pesquisa e entreajuda com colegas que já “viravam frangos” há muito tempo na área.

Comecei a sentir, do mesmo modo, a minha valorização a ser desafiada. Ouvi comentários de que “nas feiras não tens de preparar nada, chegas lá e danças, e mesmo as roupas necessárias são mais baratas”. Fiquei incrédula: o trabalho de pesquisa de músicas, pelo menos no meu caso, sempre existiu. Conheci alguns grupos que se dedicavam à procura de repertório medieval, renascentista e românico através da Internet, ainda sem saber, muitas das vezes, que poderiam ser meus colegas na partilha do palco. Isto sempre foi, a meu ver, sinónimo de preparação. Por outro lado, a “estaleca” necessária para ter uma improvisação cuidada e constantemente diversificada exige um trabalho prévio de bastantes ensaios e, sobretudo, de muita escuta e leitura musical.

O contacto com várias espécies de animais e o constatar da afetividade de todas as espécies, dos seus ritmos biológicos e necessidade de cuidados tornava-me uma mulher cada vez mais ciente do Humano como “mais um” no Planeta Terra. O material necessário e a logística envolvente de cada área de atuação presente numa recriação faziam os meus olhos brilharem.

Atuar em recriações históricas, após tantos anos de trabalho de palco, virou a minha imagem de marca e tornou-se, definitivamente, o meu pulsar de vida performativa. Apesar de, enquanto professora de dança de várias modalidades desde os meus 18 anos, ter atuações de rua e contactado de perto com o público, a interação com quem me observava virava agora pele.

Podia estender-me, tantas foram as mudanças…mas apenas termino dizendo qual foi, para mim, a maior aprendizagem deste meu singelo percurso: aprendi o que é o meu Portugal. Vi terras dignas de produções hollywoodescas e gentes do nosso Interior muitas vezes esquecidas com uma história de vida merecedora de registo literário.

Dançar nas recriações históricas é, para mim, o verdadeiro “quem corre por gosto não cansa”, e só espero honestamente voltar a ter todas estas vivências que me trazem a lágrima ao olho ao recordá-las.